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A nova era do aço: exportações devem impulsionar siderurgia em 2021

Setor retoma níveis de produção aos poucos; apesar do impacto da pandemia, o câmbio favorável e a reforma tributária no horizonte sustentam otimismo

Fazia um calor intenso na manhã de 26 de agosto, uma quarta-feira, quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e outros figurões do governo surgiram na cerimônia de retomada das atividades do alto-forno 1 na usina de Ipatinga da Usiminas, em solo mineiro. Acompanhavam o presidente da República, membros da alta cúpula da política nacional e do estado de Minas Gerais, como o governador Romeu Zema (Novo), além de executivos da companhia siderúrgica. O equipamento tem capacidade de produzir cerca de 2.000 toneladas diárias de ferro gusa. Com a pandemia do novo coronavírus, a economia mundial travou em meados de março. O fechamento de fábricas e a retração do consumo em todo o mundo fizeram com que a produção da matéria-prima primordial para a construção civil e para a indústria, presente em automóveis e eletrodomésticos, ficasse estagnada e a capacidade ociosa disparasse.

Desde 2015, a utilização da capacidade nas siderúrgicas nacionais não passa de 70%. Com a Covid-19, os índices caíram para menos de 50%. A despeito do cenário nebuloso, ainda existe um grande espaço para ser ocupado. Para isso, a retomada econômica é de suma importância. A conjuntura macroeconômica atual, em que pesa a taxa básica de juros, a Selic ao menor nível histórico e o dólar valorizado frente ao real, sinaliza novos tempos para a indústria nacional, sobretudo para as exportadoras. Soma-se, ainda, a disparada nos preços do minério de ferro, o que faz reacender as chamas de um futuro promissor para este mercado. “O atual dinamismo do setor imobiliário e dos preços relativos como câmbio devem estimular a indústria siderúrgica nacional, especialmente se a demanda global ajudar”, projeta o engenheiro e doutor em economia Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e atual diretor de estratégia econômica e relações com mercados do banco Safra.

Em governos anteriores, a indústria nacional foi preterida em relação ao avanço de setores como comércio e serviços. Não são poucos os que classificam o período da recente economia brasileira como um processo de ‘desindustrialização’. Pode ser que tal afirmação seja até exagerada, mas não se deve negar que a taxa de juros altíssima e o dólar parelho ao real de tempos passados foram fatores que levaram diversos segmentos produtivos à estagnação. “Em países mais desenvolvidos, quando você tem um processo de desindustrialização, é porque a renda da população e o PIB per capita já alcançaram uma evolução natural”, afirma Luis Fernando Martinez, diretor-executivo da CSN. “Aqui no Brasil, a indústria se desidratou nos últimos anos, ao mesmo tempo em que não tivemos crescimento dos índices de renda da população”.

Dados do Instituto Aço Brasil apontam que a produção siderúrgica brasileira não passou de 14,2 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2020. Os números identificam uma queda de 17,9% em relação à quantidade produzida de janeiro a junho do ano passado. O crescimento robusto do mercado imobiliário reduziu as perdas do setor no período, mas ainda é necessário que a indústria automobilística e a produção de máquinas e equipamentos retomem. “Mais de 80% da demanda da indústria siderúrgica brasileira está concentrada em construção civil, bens de capital e no setor automotivo. Quando veio a pandemia, nós enfrentamos uma crise severa, porque só o setor da construção civil continuou funcionando”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente da entidade. “Em julho, nós retomamos o nível de atividade que tínhamos em janeiro. Estamos vivenciando uma retomada em V.”

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